Obesidade e gravidez: riscos, recomendações e o papel da cirurgia bariátrica

Publicado em 15/04/2024.

Tempo de leitura: 6 minutos.

Obesidade e gravidez

Obesidade e gravidez é uma combinação que assusta muita gente, tendo em vista que a gravidez, por si só, é um período de mudanças significativas no corpo e no metabolismo da mulher, o que pode levar a alguns riscos para a saúde.

Com isso não queremos dizer que a gestação e o parto são um problema, ou mesmo uma doença. Mas sim que existem riscos maiores de desenvolvimento de certas patologias, como:

  • Formação de coágulos sanguíneos, que podem causa, por exemplo, derrames cerebrais também conhecidos como AVC (acidente vascular cerebral)
  • Mudanças na pressão arterial
  • Ganho de peso excessivo
  • Mudanças de humor
  • Infecções pós-parto

E, quando juntamos todas essas questões relacionadas a gravidez à obesidade, as chances de problemas, seja para a mãe ou para o bebê, se multiplicam.

Por isso, entender esses riscos com mais detalhes, tanto da obesidade isoladamente quanto da sua associação com uma possível gravidez, é essencial. E é o que faremos neste artigo.

Obesidade e seus riscos para a saúde

A obesidade é uma condição médica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que pode ter impactos significativos na saúde e no bem-estar. Uma maneira comum de medir a obesidade é através do Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso da pessoa pelo quadrado da sua altura (em metros). Um IMC igual ou superior a 30 é geralmente considerado como indicativo de obesidade.

Então, medir o seu IMC é o primeiro passo para avaliar sua saúde, e pode ser feito rapidamente utilizando o Teste de Risco de Obesidade.

Porém, além do IMC, é importante considerar as implicações para a saúde associadas ao excesso de peso. A obesidade está associada a uma série de condições médicas, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardíacas, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), certos tipos de câncer, apneia do sono, artrite e problemas respiratórios, entre outros.[1]Fruh SM. Obesity: Risk factors, complications, and strategies for sustainable long-term weight management. J Am Assoc Nurse Pract. 2017 Oct;29(S1):S3-S14. doi: 10.1002/2327-6924.12510

Assim, a obesidade pode afetar negativamente a qualidade de vida de uma pessoa, limitando sua capacidade de realizar atividades físicas e causando desconforto físico e emocional. Além disso, a obesidade pode levar a problemas psicológicos, como baixa autoestima, depressão e ansiedade.

Por estes motivos, resumir a obesidade ao excesso de peso é um erro.

Veja também: Obesidade e doenças crônicas – como perder peso pode ajudar na sua saúde?

Obesidade e gravidez: quais os riscos?

Como vimos no tópico anterior, a obesidade é uma condição que traz consigo uma série de riscos para a saúde, que podem piorar a qualidade de vida.

Mas, falando especificamente da sua relação com a gravidez e com a saúde do bebê, existem alguns pontos que devem ser tratados com mais atenção:

1. Riscos para a mãe

O corpo da mãe, como sabemos, passa por mudanças drásticas durante a gravidez, e mais ainda quando pensamos em uma associação com a obesidade.[2]Cheah S, Gao Y, Mo S, Rigas G, Fisher O, Chan DL, Chapman MG, Talbot ML. Fertility, pregnancy and post partum management after bariatric surgery: a narrative review. Med J Aust 2022; 216 (2): 96-102.

Isso ocorre tanto pela possível intensificação dos problemas que a gravidez pode gerar, quanto pelo surgimento de novas patologias. Assim, podemos citar:

  • Diabetes gestacional
  • Hipertensão gestacional
  • Pré-eclâmpsia
  • Piora de condições de saúde pré-existentes
  • Problemas nas vias respiratórias, incluindo a apneia obstrutiva do sono

Como podemos notar, são questões que até podem surgir em uma gestante com o peso considerado ideal. Mas os riscos para quem tem obesidade são maiores.

2. Riscos para o bebê

Já para o bebê, os riscos da associação entre obesidade e gravidez são ainda maiores, uma vez que ele depende exclusivamente da mãe para crescer e se desenvolver:

  • Dificuldades para realização de exames pré-natais, como ultrassonografias, devido ao excesso de gordura na região abdominal
  • Problemas congênitos, em especial os defeitos no fechamento do tubo neural, como a fenda palatina
  • Prematuridade, que por sua vez traz um aumento de risco de problemas respiratórios e de desenvolvimento
  • Macrossomia, ou crescimento excessivo do bebê, que aumenta a necessidade de parto cesárea
  • Morte intrauterina e aborto espontâneo, seja por questões relacionadas a saúde do bebê ou da mãe

Porém, isso não significa que os filhos de mulheres com obesidade terão problemas de saúde, mas sim que existe um risco maior de desenvolvimento dessas condições quando a obesidade e gravidez ocorrem simultaneamente.

Obesidade e dificuldade para engravidar: Qual a relação?

Os riscos relacionados à obesidade e gravidez são bem conhecidos pela ciência, mas a fertilidade também é afetada pelo excesso de peso, tanto em homens quanto em mulheres.

Nas mulheres, a obesidade pode levar a irregularidades menstruais, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e a ausência da ovulação, dificultando a concepção.

Além disso, mulheres que estão acima do peso podem desenvolver problemas hormonais.[3]Pg Baharuddin DM, Payus AO, Abdel Malek Fahmy EH, Sawatan W, Than WW, Abdelhafez MM, Oo Leik NK, Ag Daud DM, Mohd Daud MN, Ahmad ZNS. Bariatric surgery and its impact on fertility, pregnancy and its … Continue reading

Já para os homens, a obesidade pode causar disfunção erétil, diminuição na qualidade do esperma e redução da produção de testosterona.

Portanto, a manutenção de um peso saudável é fundamental para otimizar a fertilidade do casal.

Qual o melhor momento para engravidar?

Para mulheres que estão acima do peso e desejam engravidar, é importante consultar um médico ou mesmo um especialista em fertilidade para avaliar a melhor abordagem.

Geralmente, é aconselhável adiar a gravidez até que o peso seja reduzido para um nível considerado saudável, pois isso pode tanto melhorar as chances de concepção quanto reduzir o risco de complicações durante a gestação.

E com relação à cirurgia bariátrica, indicada em alguns casos para o tratamento da obesidade, existem recomendações um pouco mais específicas:

  • Devido à intensa perda de peso que ocorre após a cirurgia, especialistas da área recomendam esperar entre 12 e 18 meses entre a realização do procedimento e uma possível gravidez.[4]Cheah S, Gao Y, Mo S, Rigas G, Fisher O, Chan DL, Chapman MG, Talbot ML. Fertility, pregnancy and post partum management after bariatric surgery: a narrative review. Med J Aust 2022; 216 (2): 96-102. … Continue reading
  • Também é importante ter em mente o impacto da cirurgia na absorção de nutrientes, para que isso não afete a gestação ou a saúde do bebê. Por isso, a suplementação nutricional deve ser individualizada.

Resumindo: A obesidade e o seu tratamento devem sempre ser levados em consideração antes da gravidez, já que podem influenciar na fertilidade e na saúde da mãe e do bebê.

 

Referências

Referências
1 Fruh SM. Obesity: Risk factors, complications, and strategies for sustainable long-term weight management. J Am Assoc Nurse Pract. 2017 Oct;29(S1):S3-S14. doi: 10.1002/2327-6924.12510
2 Cheah S, Gao Y, Mo S, Rigas G, Fisher O, Chan DL, Chapman MG, Talbot ML. Fertility, pregnancy and post partum management after bariatric surgery: a narrative review. Med J Aust 2022; 216 (2): 96-102.
3 Pg Baharuddin DM, Payus AO, Abdel Malek Fahmy EH, Sawatan W, Than WW, Abdelhafez MM, Oo Leik NK, Ag Daud DM, Mohd Daud MN, Ahmad ZNS. Bariatric surgery and its impact on fertility, pregnancy and its outcome: A narrative review. Ann Med Surg (Lond). 2021 Nov 11;72:103038. doi: 10.1016/j.amsu.2021.103038
4 Cheah S, Gao Y, Mo S, Rigas G, Fisher O, Chan DL, Chapman MG, Talbot ML. Fertility, pregnancy and post partum management after bariatric surgery: a narrative review. Med J Aust 2022; 216 (2): 96-102. doi: 10.5694/mja2.51373

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