Obesidade e menopausa: uma combinação perigosa
Publicado em 06/12/2023.
Tempo de leitura: 6.4 minutos.
A menopausa é algo que ocorre com todas as mulheres e, para muitas delas, está associada ao ganho de peso e à obesidade.
No entanto, essa associação não é nem simples, nem direta, e pode afetar o organismo de diferentes maneiras.
Mas, como veremos a seguir, manter um peso saudável pode ajudar a controlar e até mesmo prevenir muitos dos desconfortos que comumente aparecem nesta fase da vida da mulher, fazendo com que o conhecimento sobre as diferentes estratégias para manter a saúde ganhe uma importância ainda maior.
Obesidade e menopausa: existe uma relação?
Antes de nos aprofundarmos na relação entre menopausa e obesidade, é importante entendermos o que cada uma dessas condições significa:
- A menopausa é uma fase natural na vida das mulheres que marca o fim de seus anos reprodutivos, e ocorre normalmente entre os 45 e 55 anos. Ela ocorre devido a mudanças hormonais no corpo e é caracterizada pelo término da menstruação
- Já a obesidade é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. No entanto, ela não se resume a isso, uma vez que a obesidade pode vir acompanhada de uma série de mudanças metabólicas, além de aumentar o risco de desenvolvimento de outros problemas de saúde
Mas, mesmo conhecendo o que significa cada um desses conceitos, fica a dúvida: Como esses dois fatores estão interligados?
E a resposta para isso não é tão simples como parece:
- Alterações hormonais
A partir da menopausa, os ovários vão produzindo cada vez menos estrogênio e progesterona, dois importantes hormônios femininos.
Isso faz com que, entre outras coisas, o organismo passe a lidar com a gordura de forma diferente[1]Albert A. Opoku, Mandy Abushama, Justin C. Konje. Obesity and menopause. Best Practice & Research Clinical Obstetrics & Gynaecology. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2023.102348:
- Há um maior acúmulo de gordura na região abdominal
- Maior facilidade para ganhar peso
- Dificuldade para perder os quilos extras
Mas, por que isso ocorre?
Uma das ações do estrogênio é justamente “moldar” o corpo da mulher, e isso inclui a distribuição da gordura.
Por isso, mulheres jovens tendem a ter um acúmulo maior de gordura na região do quadril.
Mas quando a produção do hormônio cessa, a distribuição da gordura no corpo muda, e ela passa a se acumular no abdômen.
- Mudanças no metabolismo
A diminuição dos níveis de estrogênio tem um efeito direto no metabolismo de gorduras1. Em outras palavras, o que ocorre é uma diminuição do gasto de energia e da queima de gorduras, que levam ao aumento do peso.
Além disso, os níveis baixos de estrogênio também aumentam o risco de desenvolvimento de resistência à insulina, o que força o pâncreas a produzir uma quantidade cada vez maior desse hormônio.
Com o tempo, porém, o pâncreas começa a falhar e a diminuir a produção de insulina. Isso, por sua vez, pode levar à diabetes tipo 2.
- Ansiedade e outras questões psicológicas
Como vimos, a menopausa é um período de grandes mudanças fisiológicas, com intensas flutuações hormonais.
No entanto, os hormônios não afetam apenas a distribuição de gordura e o metabolismo: eles têm um grande efeito nas emoções e no humor.
Assim, durante a menopausa é comum o aparecimento de sintomas psicológicos, em especial a ansiedade e a depressão.
Esses dois problemas, por sua vez, podem levar ao ganho de peso, uma vez que eles comumente causam um aumento do consumo de alimentos doces e gordurosos.
Obesidade e sintomas da menopausa
O excesso de peso pode intensificar os sintomas da menopausa, tornando esse período mais desconfortável para mulheres que sofrem com a obesidade.
No entanto, a explicação para essa piora é, como vimos acima, complexa e depende de diferentes fatores. Mas o principal deles é o estrogênio, principal hormônio feminino.
Além disso, o excesso de gordura funciona como um isolante térmico, piorando as ondas de calor comuns da menopausa. Assim, mulheres com obesidade apresentam esse sintoma com maior frequência.
No entanto, outros sintomas da menopausa também são comuns em pessoas com sobrepeso e obesidade, e o que ocorre é uma potencialização deles, principalmente no caso das mudanças de humor, ansiedade, problemas ósseos e articulares.
Ou seja, esses desconfortos já são mais frequentes em pessoas que estão acima do peso ideal, mas com a chegada da menopausa, isso se intensifica.
Desta forma, baseados em estudos sobre a menopausa e seus sintomas, especialistas e organizações de saúde internacionais, como a Sociedade Portuguesa de Ginecologia[2]Fatela A, Neves AR, Couto D, Arteiro D, Águas F, Geraldes F, et al. Consenso Nacional Sobre Menopausa. Sociedade Portuguesa de Ginecologia. 2021. e do Comitê de Saúde da Mulher da Austrália[3]Leung Y, Gibson G, White S, Pettigrew I, Milward K, Milford W, et al. Managing menopausal symptoms. The Royal Australian and New Zealand College of Obstetricians and Gynaecologists/Women’s Health … Continue reading, chegaram a um consenso de que manter um peso adequado para a altura, bem como um percentual de gordura normal, ajuda a diminuir a frequência e a intensidade dos sintomas da menopausa.
Mas isso não significa que a perda de peso deva ocorrer apenas quando chega a menopausa. Na verdade, o ideal é ter um peso considerado saudável antes do aparecimento dos sintomas, para assim diminuir os incômodos que ocorrem nessa fase.
Obesidade e menopausa: Riscos para a Saúde
Tanto a obesidade quanto a menopausa são considerados fatores de risco para algumas doenças crônicas, em especial as doenças cardíacas e diabetes.
No caso das doenças cardiovasculares, isso ocorre de duas maneiras:
- O excesso de peso comumente aumenta as taxas de colesterol e triglicerídeos no sangue, que então podem levar ao desenvolvimento de problemas cardiovasculares
- Já a menopausa tem um efeito diferente, uma vez que o estrogênio tem um efeito protetor para o coração. Assim, quando a produção de estrogênio acaba, perdemos essa proteção
Já para a diabetes, os mecanismos que levam ao seu desenvolvimento são:
- As células adiposas, ou seja, de gordura, liberam substâncias pró-inflamatórias. Assim, com o tempo, isso acaba tornando as demais células resistentes à insulina
- A resistência à insulina, por sua vez, faz com que o pâncreas tenha que produzir quantidades cada vez maiores desse hormônio, levando à falência do órgão
- Por fim, como a menopausa pode aumentar o risco de obesidade, além de modificar o metabolismo de gorduras, ela potencializa o risco de desenvolvimento da diabetes tipo 2
Por isso, cuidar da saúde, e principalmente do peso, é essencial para prevenir esses e outros problemas de saúde associados à menopausa.
Resumo dos principais pontos
- Obesidade e menopausa são dois fatores que estão interligados de várias maneiras
- A diminuição da produção de estrogênio pelos ovários causa, entre outros sintomas, o ganho de peso e um maior acúmulo de gordura na região do abdômen
- O excesso de peso, por sua vez, tende a piorar os sintomas da menopausa
- Esses dois fatores associados, menopausa e obesidade, aumentam bastante a chance de desenvolvimento de doenças cardíacas e diabetes tipo 2
- Manter um peso saudável é a chave para amenizar os sintomas da menopausa, e ajuda a prevenir outros problemas de saúde comuns nessa fase da vida
Referências
↑1 | Albert A. Opoku, Mandy Abushama, Justin C. Konje. Obesity and menopause. Best Practice & Research Clinical Obstetrics & Gynaecology. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2023.102348 |
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↑2 | Fatela A, Neves AR, Couto D, Arteiro D, Águas F, Geraldes F, et al. Consenso Nacional Sobre Menopausa. Sociedade Portuguesa de Ginecologia. 2021. |
↑3 | Leung Y, Gibson G, White S, Pettigrew I, Milward K, Milford W, et al. Managing menopausal symptoms. The Royal Australian and New Zealand College of Obstetricians and Gynaecologists/Women’s Health Committee. 2023. |