Qual a relação entre a obesidade e o AVC?

Publicado em 19/04/2022.

Tempo de leitura: 4.3 minutos.

Para encontrar uma resposta a esta pergunta, devemos primeiro falar sobre a obesidade. É preciso ter clareza e entender que a obesidade é uma doença crônica, já bem estabelecida há vários anos e que vem sendo estudada mais a fundo. Vários estudos realizados mostram que a partir de sobrepeso ou obesidade leve, o risco de apresentar doenças relacionadas com a obesidade é ampliado.

A obesidade é um estado de inflamação crônica dos órgãos e tecidos do corpo em decorrência do acúmulo excessivo de gordura. Adipócitos que são células de gordura ou onde a gordura é depositada. Quando essas células aumentam de tamanho ou crescem demais, os vasos sanguíneos que as nutrem não são suficientes e podem desencadear baixo suprimento de oxigênio, fazendo com que haja liberação de substâncias inflamatórias que afetam os órgãos e tecidos do corpo.

As mortes relacionadas com acidentes vasculares cerebrais em todas as idades aumentaram na última década em até 22% [1]Mendelian Randomization Study ofObesity and Cerebrovascular Disease. Marini S, Merino J, Montgomery BE, Malik R, Sudlow CL, Dichgans M, Florez JC, Rosand J, Gill D, Anderson CD; International … Continue reading. Alguns estudos observacionais mostraram que indivíduos obesos têm o dobro do risco de sofrer eventos cerebrovasculares, em comparação com indivíduos com peso normal. No entanto, alguns estudos mostraram que o índice de massa corporal não está associado a acidentes vasculares.

A deposição de lípides ou gorduras nas paredes das artérias é conhecida como doença aterosclerótica ou aterosclerose, que causa enrijecimento e estreitamento progressivos das artérias até obstruir o fluxo sanguíneo. A doença vascular, ou dos vasos sanguíneos, inclui aterosclerose, hipertensão arterial e dislipidemia, doenças para as quais os fatores de risco para obesidade variam de 1,5 a 3,0 [2]Feigin VL, Nguyen G, Cercy K, et al. Global, regional, and country- specific lifetime risk of stroke, 1990–2016. N Engl J Med 2018;379: 2429–2437. A doença vascular está intimamente relacionada com obesidade e diabetes tipo 2 e é uma causa dominante de mortalidade em pacientes diabéticos. A importância da insulina na patogênese da aterosclerose foi demonstrada em experimentos com animais, nos quais a insulina foi administrada em artérias para causar aterosclerose.

A hiperinsulinemia, ou níveis elevados de insulina no sangue, estimula a proliferação e a síntese de colágeno na camada que contém tecido muscular. A insulina também aumenta o transporte da lipoproteína de baixa densidade (LDL) que também é conhecida como “colesterol ruim” para dentro da camada muscular das artérias e causa lipotoxicidade que resulta em estresse oxidativo e inflamação das paredes arteriais, ocasionando aglomeração das células do sistema imunológico, como macrófagos e células T, que contribuem para a formação de placas e aumento do tamanho. Os ácidos graxos saturados e seus derivados, que também se depositam nas paredes arteriais e exacerbam a resposta inflamatória.

O óxido nítrico desempenha um papel muito importante na doença vascular associada à obesidade em decorrência dos efeitos de relaxamento, anti-inflamatório, antioxidante e antiproliferativo sobre os vasos. A insulina e a resistência à insulina provocam a redução da produção de óxido nítrico nas paredes arteriais, diminuindo seus níveis. Além disso, verificou-se que a diminuição do óxido nítrico aumenta a aterosclerose.

Quando essas placas ateroscleróticas nas paredes das artérias crescem, elas podem romper e ser liberadas na circulação, o que é conhecido como trombo. Quando um trombo atinge um vaso cerebral, ele entope ou obstrui, causando um acidente vascular cerebral, que pode ser dividido em dois tipos: infarto cerebral ou hemorragia cerebral. Quando o trombo obstrui um vaso sanguíneo cerebral ocorre um infarto, ou seja, o segmento do cérebro que recebe nutrição através desse vaso começa a sofrer e se não for tratado a tempo, esse segmento do cérebro morre e provoca lesões graves, até mesmo a morte.

De acordo com o exposto, podemos concluir que existe uma forte relação entre obesidade e acidente vascular cerebral, principalmente em pacientes obesos diabéticos, ou seja, a obesidade por si só aumenta o risco de um evento vascular cerebral e quando somada ao diabetes tipo 2, esse risco é ainda maior; a hipertensão arterial sistêmica e o tabagismo aumentam exponencialmente os riscos [3]The ASMBS Textbook of Bariatric Surgery. Volume 1. Springer. 33-34..

Existem fatores de risco que podem ou não ser modificados. Os modificáveis são obesidade, tabagismo, sedentarismo, estilo de vida e nutrição. Os não modificáveis são a tendência genética à aterosclerose, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e níveis elevados de lipídios no sangue. Embora não seja possível modificá-los, eles podem ser controlados.

A obesidade é uma doença que pode ser modificada ou controlada. Ao perder peso, os pacientes reduzem significativamente os riscos de outras doenças, como diabetes tipo 2, que levam aos acidentes vasculares cerebrais.

Referências

Referências
1 Mendelian Randomization Study ofObesity and Cerebrovascular DiseaseMarini S, Merino J, Montgomery BE, Malik R, Sudlow CL, Dichgans M, Florez JC, Rosand J, Gill D, Anderson CD; International Stroke Genetics Consortium.Ann Neurol. 2020 Apr;87(4):516-524. doi: 10.1002/ana.25686. Epub 2020 Feb 19.
2 Feigin VL, Nguyen G, Cercy K, et al. Global, regional, and country- specific lifetime risk of stroke, 1990–2016. N Engl J Med 2018;379: 2429–2437
3 The ASMBS Textbook of Bariatric Surgery. Volume 1. Springer. 33-34.

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